Viajantes solo destacam o acolhimento, a conexão com a população local, vivências culturais, gastronômicas e o estímulo à transformação pessoal proporcionado pelo intenso contato com a natureza
Liberdade, independência, superação, empoderamento e transformação. Ao menos nesta matéria, as palavras encadeadas na frase não formam um combo de autoajuda; estão relacionadas a outro roteiro para o autoconhecimento: uma viagem solo.
Viajar na sua própria companhia significa abrir portas para um mundo desconhecido e poderoso: o interior, este destino imprevisível que 22% dos brasileiros cogitam explorar, conforme dados da plataforma Booking enviados ao Visite o Tocantins. A pesquisa reflete dados de janeiro e fevereiro deste ano coletados com 42.513 viajantes de 33 países, incluindo o Brasil.
A experiência de uma viagem solo pode ser desafiadora para qualquer turista, mas, para as mulheres, há outras preocupações que extrapolam o âmbito feminino, como, por exemplo, a segurança. O Visite do Tocantins ouviu depoimentos de mulheres que optaram pelo estado mais novo do país para viajar sozinha.
A técnica de enfermagem Cáren Lidiane Rosa, de Santa Catarina, optou pelo cerrado tocantinense como seu primeiro destino solo. Ela contou sua experiência, destacando a emoção e a superação. “Estava ansiosa e com medo, mas foi uma conexão maravilhosa que foi além da viagem, como o acolhimento da população local, aventuras, tirolesa, rapel e acordar cedo para ver o sol nascer”.
Cáren relata que, durante uma viagem pelo Tocantins, notou outras viajantes sozinhas, e que a atitude a incentivou. “Me impulsionou a ver que é possível, que dá para fazer amizades e que não precisamos ficar refém de outras pessoas; superei tudo por mim mesma e desejo que as pessoas possam sentir o mesmo que eu”, finaliza.
Daniela Ferreira, de Balneário Camboriú (SC), esteve no Tocantins pela primeira vez em agosto de 2021. Encantada com a experiência durante sua semana no Jalapão, com trilhas, cachoeiras, rapel, caminhadas, gastronomia e a cultura local, voltou em 2022 para conhecer as Serras Gerais.
“Me desafiei muito, fiz rapel e nunca achei que fosse fazer, porque tenho muito medo de altura, então, foi ótimo. Vim sozinha, conheci pessoas incríveis e foi uma das melhores experiências que tive no Brasil, é mais bonito do que vemos na internet”.
Dani conta que resolveu ir sozinha para o Jalapão por falta de companhia à época em que poderia viajar. “Então me joguei sozinha nessa aventura. Andei pela capital tranquilamente, conheci lugares e pessoas especiais. O Jalapão foi uma surpresa em todos os sentidos, tanto pela beleza natural quanto pela turma que conheci”.
A empresária Larissa Degon é dona da primeira agência de viagens brasileira exclusiva para mulheres, a Woman Trip. Ela conta que o negócio nasceu em 2014 com sua vontade de viajar pelo mundo, mas a falta de segurança, o julgamento social negativo, o machismo e patriarcado enraizado, dificultavam o planejamento e realização desse sonho.
A primeira viagem do projeto foi internacional e, após consolidada como agência de viagens, escolheu o Tocantins para a primeira rota nacional. “Optamos pelo Jalapão e tem sido nosso carro-chefe desde 2018. É uma viagem transformadora, pois as mulheres sentem isso quando retornam, se sentem abertas a fazerem outras viagens sozinhas e isso vem muito do destino, que transforma a pessoa”.
A empresária também relata que, por meio da agência, vê que a maioria das mulheres, ao optarem por fazer a primeira viagem sozinhas, escolhem o Jalapão, pois “além de ser um destino em contato com a natureza, intenso, transformador, que encoraja e te desafia, as pessoas são acolhedoras, isso é possível comprovar pelo feedback de outras viajantes”, explica.
De acordo com outra pesquisa realizada pela Booking em junho de 2020, com 20.934 viajantes de 28 países, a vontade de viajar sozinho aumentou globalmente, e os brasileiros ocuparam a 4ª posição no ranking. Dos viajantes brasileiros, 39% afirmaram ter a intenção de fazer uma viagem solo. “64% dos brasileiros dizem que gostariam de viajar mais no futuro para compensar o tempo perdido em 2020”, divulgou.
A criadora de conteúdo Flávia Goulart, que viaja sozinha desde 2008, acredita que alguns fatores como a internet e o fácil acesso às viagens têm um grande papel sobre esse aumento. “Quando você vê um movimento grande na internet de pessoas mostrando as suas viagens sozinhas, que é possível, as pessoas começam a considerar aquilo pra vida delas”.
Para ela, outra questão é que a viagem tem se tornado mais acessível nos últimos tempos.“Quando as pessoas percebem que é possível fazer em outros formatos, por exemplo, ficar em hostel e comer mais barato, deixam o modelo clássico e optam por uma experiência agregadora e mais barata”, explica.
No caso de mulheres viajando sozinha, a viajante afirma que “ver mulheres viajando encorajam outras mulheres, isso porque a mulher, além da questão de perceber que pode fazer o mesmo, ela tem que enfrentar outros desafios, como o medo do estupro, do assalto ou segurança”, e ressalta:
“Somos [brasileiros] agregadores e temos pavor de solidão, então viajar sozinho te permite mudar esse aspecto, colocar um pouco a sociedade de lado, olhar para dentro, se enxergar livre e se soltar de vários estigmas e crenças”.
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